sábado, 18 de setembro de 2010

Reverie .

Já se passaram dias, semanas, talvez até meses, mas essa dor não passa. Tudo está perfeito, como jamais esteve em minha vida. Eu olho em minha volta e tudo que vejo são flores. O céu está em um tom de azul que me lembram os olhos dele, e o Sol brilha, com a mesma intensidade do olhar daquele que se foi. Eu corro por entre as flores, deixando esvoaçar meu cabelo, meu vestido de renda. Corro sem pressa, como quem corre pra não chegar nunca, corre apenas por correr. Minha respiração se torna rápida, e a clareira está logo a minha frente.
Deito-me no chão, rindo de mim mesma, de minha infantilidade. Minha face arde, e, se houvesse um espelho por aqui, tenho certeza que veria minhas bochechas vermelhas como fogo. Fecho os olhos e me lembro daquela canção de ninar. Aquela que eu cantarolava para mim mesma todas as noites, antes de adormecer. Ela me lembrava tanto ele. Me lembrava tanto aqueles dias cinzas, em que tudo que eu tinha para fazer era me contentar com a solidão, e que ele, com apenas uma palavra, mudava tudo.
Abro meus olhos e, estranhamente, o Sol parece ter sido encoberto por nuvens. Pronuncio alguns palavrões em voz baixa e volto a fechar os olhos. Meus pensamentos vagaram até ele, mais uma vez. Seu sorriso invadia minha mente, e sua voz, tão suave e melodiosa, parecia ser real, e não só mais um devaneio. O calor de seu corpo parecia me esquentar, agora que o Sol tinha dado lugar a nuvens carregadas e a um vento frio. Seus dedos pareciam tocar meu cabelo dourado, e eu podia até ouvir aquela sua risadinha irônica. Eu queria abrir os olhos e vê-lo, mas tinha medo de que fosse apenas mais um sonho. Eu precisava abrir meus olhos, mas não encontrava coragem, porque eu sabia que ele sumiria e eu acordaria mais uma vez em minha cama, sozinha.
Pressentindo minha luta interna, ele levantou. Ouvi seus passos rápidos indo embora, enquanto eu tentava abrir os olhos. Sentei-me no chão e, como eu esperava, ele não estava mais ali. Só restara o vento gélido, que me fazia tremer de frio. A chuva viria logo, eu já podia até sentir o cheiro de terra molhada. Eu queria voltar a correr. Correr para ele, seguir seu rastro. Eu queria vê-lo, e ver que ele é real. Queria tocá-lo e provar para mim mesma que não era só uma alucinação. Eu queria pedir explicações, queria interrogá-lo, queria suplicar para que ficasse, mesmo que por um dia, uma hora. Queria dizer o quanto preciso dele para sobreviver. Eu queria, e só Deus sabe como eu queria, mas não podia. Deixei então a chuva vir e molhar meu vestido, meu cabelo, meus pés. Molhar a terra, as flores. Deixei ela lavar minha alma e levar consigo minhas lágrimas e meus sentimentos, que de tanto serem sentidos, já não fazem mais sentido.

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