domingo, 12 de setembro de 2010

Despertar .

Finalmente, aqui estou eu, em frente ao espelho que por tanto tempo esteve coberto. Eu me olho e o toco como se aquilo que vejo não fosse o real. Como se eu não soubesse que, apesar de tão diferente, aquela ainda sou eu. Não aquilo que sobrou - aquilo que jamais foi despedaçado. Por muito tempo pensei estar quebrada e sem conserto, como um velho carrinho sem uma ou duas rodas, encostado em um canto qualquer da parede do quarto. Pensei, por noites e noites, que havia chegado o meu fim. Que eu jamais iria recomeçar, que nunca teria forças para tal ato. E, se eu tivesse, jamais esqueceria. Eu tinha a certeza de que aquelas lembranças iam me perseguir dia e noite, como uma assombração, procurando por cada gota de meu sangue. Eu estive errada.
Quem diria, a pequena e frágil garota se tornou na garota forte que o reflexo do espelho me mostra. Faces arranhadas, cabelo mais comprido do que o normal, caindo em suas mesmas ondas indefinidas. Olhos frios e quentes ao mesmo tempo - estes parecem me transmitir a paz e o ódio que ela sentiu. Eu olho meu próprio reflexo, e parece que o espelho me engana mais uma vez. Nunca pensei que eu me tornaria tão forte, como se nada fosse capaz de me segurar. Tão autêntica, como se cada pensamento meu fosse inteiramente e exclusivamente meu. Tão bonita, tão corajosa. Me pergunto se nunca me olhei bem o suficiente para saber quem era eu, e algo em meu interior me diz que não.
Me olho no espelho pela última vez, e não consigo reprimir um sorriso. Realmente, nunca pensei que eu fosse ser quem sou hoje. Tão contente, tão feliz. Tão viva. É como se eu tivesse dormido por 15 anos, e só agora tivesse acordado.
Nova vida, seja bem vinda.

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