quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Tomorrow.

- Você mentiu para mim.
Não era uma pergunta, era uma afirmação. O vento soprava forte e fazia meus longos cabelos esvoaçarem. As árvores perdiam sua folhagem naquela tarde fria de primavera.
- Não foi por querer, você sabe disso. - minhas palavras eram somente súplicas, meus olhos começavam a derramar as lágrimas que guardei por muito tempo.
- Não quero saber se você queria que fosse assim ou não. Você me enganou, brincou comigo. - ele tomou fôlego, procurou palavras, mas não continuou.
O silêncio, então, se fez presente. Eu não tinha coragem de encará-lo, mas tenho certeza que ele me fulminava com aquele olhar de ódio que me causava arrepios. Eu não queria ver seus olhos verdes me repreendendo, e, o pior, demonstrando a dor que eu tinha causado a ele.
O vento soprou mais uma vez forte, fazendo-me tremer de frio. Maldito momento em que decidi sair sem levar uma blusa de frio! Involuntariamente, olhei para ele e cruzei com seu olhar. Seus olhos verdes brilhavam como jamais tinha visto antes, com um brilho diferente. Era um misto de dor e sofrimento, como se tivessem apunhalado-o pelas costas. Aquilo doía em mim, mas eu merecia.
- E agora, acabaram as farsas? - o sarcasmo em sua voz me cortava cada vez mais e mais.
- Acabaram.
Ele suspirou e olhou em volta. Peguei sua mão levemente e encarei o chão. Eu só queria que ele entendesse o meu lado da história. Eu só queria seu perdão, e então eu iria embora.
- Solte a minha mão. - ele a puxou delicadamente, deixando meus dedos segurarem o ar. - Bom, eu acho que já é hora de ir. Não há mais nada a conversar.
- Não! Não vou deixar você ir sem me perdoar! - segurei novamente sua mão, usando toda a minha força para impedi-lo de ir, mesmo sabendo que seria inútil. - Não é justo! Me entenda, por favor!
- Quem tem que entender algo é você! - agora ele estava realmente alterado. O tom de sua voz aumentara um pouco, fazendo algumas poucas pessoas que estavam no parque olharem para nós - Você me iludiu todo esse tempo! Sabia que eu te amava, que eu daria minha vida por você! E mesmo assim, mentiu! Zombou de mim enquanto tudo que eu fazia era te ajudar! Me fez confiar em você, falava que me amava e que eu precisava de ajuda! E era tudo mentira!
Eu pude sentir as  lágrimas escorrendo, quentes, dos meus olhos. Aquilo estava sendo sufocante, e tudo ao redor parecia ter sumido.
- Não era! Em momento algum, eu te juro, em momento algum eu quis te trair! Você acha que foi fácil para mim?! Acha que minha mente não me condenava dia e noite?! Eu sabia que estava errada, eu sabia que tinha que te contar a verdade, mas não tive coragem! Eu não podia correr o risco de te perder. . e no fim, eu perdi.
Olhei para ele, e seus olhos estavam cheios de lágrimas. Por um momento, pensei que ele fosse chorar, mas me lembrei que ele não chorava. Ele era forte demais e orgulhoso demais para tal ato.
- É verdade. . você me perdeu. Para sempre.
Suas palavras me mataram. Cortaram-me em mil partes e arrancaram meu coração. Tudo ficou negro, e então eu fechei os olhos. A última coisa que eu precisava ver era ele se afastando. Eu não precisava ter aquela como a última visão que teria dele. Preferia guardar os bons momentos, o tom doce de sua voz ao dizer "te amo", o som de sua gargalhada. Eu iria esquecer aquele dia, desde que eu não o visse dando adeus para mim. Não precisava ser mais difícil do que já estava sendo.
De repente, senti seus lábios quentes tocarem minha testa fria, dando-me um último beijo. Senti-me um monstro naquele momento. Era o fim, eu sabia. O fim que eu sabia que teria, mas que ele não merecia.
- Mas, apesar de tudo, eu continuarei te amando. - ele sussurrou ao meu ouvido.
Fiquei ali parada por mais alguns minutos, e quando abri os olhos novamente, ele havia sumido. Suspirei fundo e dei as costas.
Eu estava voltando para casa sem ele, como há muito tempo atrás.

sábado, 18 de setembro de 2010

Reverie .

Já se passaram dias, semanas, talvez até meses, mas essa dor não passa. Tudo está perfeito, como jamais esteve em minha vida. Eu olho em minha volta e tudo que vejo são flores. O céu está em um tom de azul que me lembram os olhos dele, e o Sol brilha, com a mesma intensidade do olhar daquele que se foi. Eu corro por entre as flores, deixando esvoaçar meu cabelo, meu vestido de renda. Corro sem pressa, como quem corre pra não chegar nunca, corre apenas por correr. Minha respiração se torna rápida, e a clareira está logo a minha frente.
Deito-me no chão, rindo de mim mesma, de minha infantilidade. Minha face arde, e, se houvesse um espelho por aqui, tenho certeza que veria minhas bochechas vermelhas como fogo. Fecho os olhos e me lembro daquela canção de ninar. Aquela que eu cantarolava para mim mesma todas as noites, antes de adormecer. Ela me lembrava tanto ele. Me lembrava tanto aqueles dias cinzas, em que tudo que eu tinha para fazer era me contentar com a solidão, e que ele, com apenas uma palavra, mudava tudo.
Abro meus olhos e, estranhamente, o Sol parece ter sido encoberto por nuvens. Pronuncio alguns palavrões em voz baixa e volto a fechar os olhos. Meus pensamentos vagaram até ele, mais uma vez. Seu sorriso invadia minha mente, e sua voz, tão suave e melodiosa, parecia ser real, e não só mais um devaneio. O calor de seu corpo parecia me esquentar, agora que o Sol tinha dado lugar a nuvens carregadas e a um vento frio. Seus dedos pareciam tocar meu cabelo dourado, e eu podia até ouvir aquela sua risadinha irônica. Eu queria abrir os olhos e vê-lo, mas tinha medo de que fosse apenas mais um sonho. Eu precisava abrir meus olhos, mas não encontrava coragem, porque eu sabia que ele sumiria e eu acordaria mais uma vez em minha cama, sozinha.
Pressentindo minha luta interna, ele levantou. Ouvi seus passos rápidos indo embora, enquanto eu tentava abrir os olhos. Sentei-me no chão e, como eu esperava, ele não estava mais ali. Só restara o vento gélido, que me fazia tremer de frio. A chuva viria logo, eu já podia até sentir o cheiro de terra molhada. Eu queria voltar a correr. Correr para ele, seguir seu rastro. Eu queria vê-lo, e ver que ele é real. Queria tocá-lo e provar para mim mesma que não era só uma alucinação. Eu queria pedir explicações, queria interrogá-lo, queria suplicar para que ficasse, mesmo que por um dia, uma hora. Queria dizer o quanto preciso dele para sobreviver. Eu queria, e só Deus sabe como eu queria, mas não podia. Deixei então a chuva vir e molhar meu vestido, meu cabelo, meus pés. Molhar a terra, as flores. Deixei ela lavar minha alma e levar consigo minhas lágrimas e meus sentimentos, que de tanto serem sentidos, já não fazem mais sentido.

domingo, 12 de setembro de 2010

Despertar .

Finalmente, aqui estou eu, em frente ao espelho que por tanto tempo esteve coberto. Eu me olho e o toco como se aquilo que vejo não fosse o real. Como se eu não soubesse que, apesar de tão diferente, aquela ainda sou eu. Não aquilo que sobrou - aquilo que jamais foi despedaçado. Por muito tempo pensei estar quebrada e sem conserto, como um velho carrinho sem uma ou duas rodas, encostado em um canto qualquer da parede do quarto. Pensei, por noites e noites, que havia chegado o meu fim. Que eu jamais iria recomeçar, que nunca teria forças para tal ato. E, se eu tivesse, jamais esqueceria. Eu tinha a certeza de que aquelas lembranças iam me perseguir dia e noite, como uma assombração, procurando por cada gota de meu sangue. Eu estive errada.
Quem diria, a pequena e frágil garota se tornou na garota forte que o reflexo do espelho me mostra. Faces arranhadas, cabelo mais comprido do que o normal, caindo em suas mesmas ondas indefinidas. Olhos frios e quentes ao mesmo tempo - estes parecem me transmitir a paz e o ódio que ela sentiu. Eu olho meu próprio reflexo, e parece que o espelho me engana mais uma vez. Nunca pensei que eu me tornaria tão forte, como se nada fosse capaz de me segurar. Tão autêntica, como se cada pensamento meu fosse inteiramente e exclusivamente meu. Tão bonita, tão corajosa. Me pergunto se nunca me olhei bem o suficiente para saber quem era eu, e algo em meu interior me diz que não.
Me olho no espelho pela última vez, e não consigo reprimir um sorriso. Realmente, nunca pensei que eu fosse ser quem sou hoje. Tão contente, tão feliz. Tão viva. É como se eu tivesse dormido por 15 anos, e só agora tivesse acordado.
Nova vida, seja bem vinda.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A você, muito obrigada .

Obrigada . Obrigada pelas lágrimas e pela dor . Obrigada por ter me tomado minha paz . Obrigada por ter mentido, me feito acreditar que era real, e ter me deixado na escuridão . Obrigada por sempre ter dito "não" enquanto me dava às costas . Obrigada por me ignorar e fingir que não vê . Obrigada por pisar em meu coração, como se não fosse nada . Obrigada por tratar meus sentimentos como algo impuro . Obrigada por ter mudado teu comportamento quando disse o que sentia . Obrigada por ter sido infantil e imaturo . Obrigada por ter me feito sofrer como ninguém jamais tinha feito . Obrigada por ter jogado teu jogo de sedução comigo . Obrigada por ter criado feridas profundas em meu coração, que não irão se fechar . Obrigada por não ter me dado chances . Obrigada por ter me tratado como uma qualquer, sem nem sequer ter olhado nos meus olhos enquanto abria meu coração pra ti . Obrigada por ter se despedido de mim mesmo eu pedindo para não partir . Obrigada por estar em meu pensamento a cada segundo, me ferindo mais e mais . Obrigada pelas músicas tristes que me lembram você . Obrigada pelos momentos de tardes quentes que nunca passaram de pensamentos meus . Obrigada por todos os beijos que não foram dados, pelos abraços que não foram apertados .
Obrigada por ter me feito sangrar e cair aos pedaços . Hoje, estou completa novamente, e pronta para partir a qualquer segundo, assim que você permitir . Obrigada, muito obrigada por ter me feito crescer, mas não espere que eu volte a te agradecer .

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Nuvens .

Hoje é mais um daqueles dias incrivelmente quentes . Faz uma bela tarde lá fora, e o céu está realmente bem azul, enquanto uma brisa agradável bate nos rostos das pessoas, fazendo seus cabelos esvoaçarem . Aqui do lado de dentro do meu quarto, eu observo as nuvens . É incrível poder admirar a beleza do céu em uma tarde dessas . Olhar e não pensar em nada, somente aproveitar o momento . Agradecer por mais um minuto de vida, sem pensar nas tristezas que às vezes o destino coloca em nosso caminho . Só observar calada, com pensamentos tranquilos .
É engraçado . Ontem coloquei na cabeça que eu iria te esquecer a qualquer custo . Como eu faço todos os dias, todas as horas, todos os minutos . Prometi para mim mesma que não pensaria mais em você, mas não botei fé em minha promessa . E, inexplicavelmente, não me lembrei de você ao acordar . Não pedi pelo teu abraço ou pelo teu sorriso . Até porque não faz mais sentido continuar com esse atraso de vida . Daqui pra frente, quero mais dias de céu azul e brisa fraca . Já chega de dias cinzas, em que Sol nenhum brilha no horizonte . Quero a luz e o calor do Sol, quero as nuvens desenhando no imenso fundo azul . Quero me levantar, me curar, e seguir em frente, com força e fé .
Daqui pra frente, vai ser diferente . Pela última vez, eu prometo .

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

September .

Setembro. Alguém faz noção de como esperei esse mês chegar ?
Não tenho nada de especial programado para ele, mas sei que a vida vai se encarregar de torná-lo o melhor do ano. Cada parte de mim sente, e espera ansiosamente por mudanças. Por esquecimentos. Cada parte de mim suplica para que eu vire essa página do livro. Chega de dores, chega de frio, chega de lágrimas, chega de sofrer. Chega de me machucar mais e mais, chega de querer sangrar, já chega disso. Quero Sol, quero sorrisos, quero abraços, quero positividade, quero o que de melhor Setembro possa me proporcionar. Quero brincar, correr, pular, viver. Quero viver o que Agosto não permitiu. Quero ser feliz como jamais fui em Agosto, ou em qualquer outro mês desses últimos 15 anos.

Setembro, seja bem vindo.