sexta-feira, 16 de julho de 2010

Photographs

De novo me encontro naquela sala de estar, sentada naquele sofá cor creme . Olho para os quadros, somente velhas lembranças de tempos bons . Num porta-retrato empoeirado, encontro uma fotografia de uma família feliz . Uma criança sorridente, com dentes faltando-lhe na frente, segurada por um pai alegre, e uma mãe com a mesma expressão facial bem ao lado de seu marido, repousando carinhosamente sua cabeça em seu ombro largo . Lágrimas começam a brotar de meus olhos, e desloco meu olhar para outra fotografia . Desta vez, um quadro pendurado na parede branca . Mais uma vez, vejo uma família contente . A menina parece ter crescido um pouco, talvez tenha passado dois ou três anos . Seu sorriso continua estampado em seu rosto, agora com todos os dentes . Segura a mão de sua mãe e de seu pai, que observam-a de modo amoroso . As lágrimas voltam a embaçar minha visão, e volto a fugir daquela lembrança . Caminho pela sala, que parece estar mais grande do que da última vez . Nas paredes e estantes, repousam muitas fotos, lembranças . Permito-me observar outra foto emoldurada num porta-retrato de cristal . Agora, a menina, já tornada uma adolescente, está ao fundo da fotografia, somente observando os dois adultos, com expressões alteradas . Pego o porta-retrato, passo a mão pelo rosto daquela jovem, deslizo meus dedos sobre as duas figuras exaltadas . Conheço bem aquela cena, típica cena familiar . Volto a descançar o porta-retrato na estante . Dou alguns passos em direção à janela, e uma certa fotografia jogada ao chão me chama a atenção . Me abaixo, pego-a, e levanto novamente . A foto revela aquela adolescente sentada ao chão daquela sala, exatamente aonde eu estava parada . A mãe de um lado do sofá, e o pai de outro . Ambos se encarando, com olhares raivosos, revoltados . Tão perdidos em seus problemas cotidianos, tão cegados pelo ódio que nem percebem o sofrimento da própria filha . Da filha que sofre calada, chora baixo e reza para as coisas melhorarem . Cansada de tentar impedir que as lágrimas caiam, deixo-as livres agora . Lanço um último olhar de medo e angústia para a foto antes de rasgá-la ao meio e jogá-la ao chão, exatamente de onde a peguei .
Abro a porta da sala de estar e vou embora, dando um último suspiro de dor ao fechar a porta atrás de mim . Aquela era a minha vida, as minhas fotos, as minhas dores e o meu final .

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